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Com Selic a 13,75%, crédito imobiliário se torna estratégia de investimento
A operação permite que investidores recebam retornos cima de 13% ao ano, enquanto pagam menos de 10% ao ano em juros do financiamento de imóveis
12/09/2022
Uma questão de liquidez
Não se trata apenas da rentabilidade. A manobra também serve àqueles que vêem uma oportunidade no mercado imobiliário, mas não querem sair de imediato de suas alocações no mercado financeiro.
“Com o crédito imobiliário, que é de longuíssimo prazo, o cliente não tem pressão de liquidez, não precisa mexer nas suas aplicações que podem render acima do custo do crédito imobiliário, como ocorre agora”, afirma Leonardo Kitaguchi, superintendente de estruturação, produtos e crédito do Itaú Private.
Sair de uma aplicação antes do prazo planejado, de uma hora para outra, pode causar sérios prejuízos. Perde-se na renda fixa, se a marcação a mercado estiver desfavorável. Ou seja, quando o título se desvaloriza diante da curva de juros e o preço fica abaixo do valor investido. E perde-se na renda variável: determinadas ações podem estar em um momento de baixa e o cliente fica no prejuízo se as vende inoportunamente.
De acordo com Sérgio Granado, superintendente de produtos do Santander Private Banking, hoje o crédito imobiliário é aprovado com muita agilidade, principalmente para clientes de alta renda. Logo, permite a compra do imóvel com rapidez, sem ter de se desfazer de posições estratégicas.
“Com até 35 anos de prazo, o cliente não precisa dispor mensalmente de uma parcela muito alta. Apesar disso, nesse segmento [do cliente que aplica o dinheiro que tem e pega um financiamento imobiliário], o prazo para quitar a dívida é em média de 5 anos. Porque ao longo do tempo, o cliente vai recebendo liquidez de outros investimentos que vão vencendo ou da venda de participação de alguma empresa. E quando ele gera fluxo de caixa, amortiza a dívida rapidamente”, explica o executivo do Santander.
Entre as vantagens de tomar o crédito imobiliário em vez de pagar à vista, os executivos destacam ainda a questão da diligência, que é o conjunto de cuidados que os bancos tomam antes de aprovar o empréstimo. Eles fazem a inspeção da propriedade, avaliam e verificam se há pendências no histórico e Justiça. É barba, cabelo e bigode. Tudo isso para se proteger, já que o bem será a garantia em caso de calote. Ou seja, o banco já faz o serviço de ver se está tudo certo para a compra daquele imóvel.
Pandemia
Antes mesmo da reviravolta no ciclo de juros no Brasil, há mais de um ano, o crédito imobiliário já vinha sendo usado como recurso, porque naquele momento estava com os juros em menor nível histórico. Segundo Granado, até quando a Selic estava mais baixa que as taxas dos bancos, os clientes viam oportunidade na operação.
“Há outros conceitos que interferem na decisão, não somente as taxas de juros. Na época, fizemos várias operações [de financiamento imobiliário] com juros a 6,99% ao ano e agora o cliente está satisfeito porque está ganhando [já que o financiamento subiu e ele conseguiu taxas melhores]”, aponta.
De fato, os ganhos são ainda maiores para os investidores que tomaram o crédito no ano passado e conseguiram travar os juros baixos por um longo prazo e agora se aproveitam da onda de juros altos na ponta dos seus investimentos.
Somado à queda das taxas do financiamento de imóveis, a pandemia também veio para aquecer o mercado imobiliário, que vinha morno desde 2017. Os executivos afirmam que a procura pelo crédito cresceu na crise, acompanhada da mudança de comportamento que fazia o brasileiro repensar a moradia.
“Vivemos nessa dinâmica híbrida. Percebemos isso pela aceleração dos investimentos na renda fixa, mas houve também aceleração na aquisição de residências. Entramos em um momento em que os imóveis estão sendo vistos como alternativa de investimento para as famílias, como uma forma de proteção do patrimônio. Então, os clientes têm aproveitado o momento para comprar a segunda e terceira residência no crédito imobiliário”, afirma Guto Miranda, do Bradesco.
Quais os riscos?
A ideia faz sentido. Mas não pode ser aplicada a todos os investidores. “Nós avaliamos exatamente a necessidade dos clientes de alta renda para saber se realmente é um bom negócio para eles. Não é só o cenário propício para essa manobra [entre o financiamento do imóvel X o investimento do dinheiro], tudo depende também dos objetivos de cada um”, afirma Cristina Katz, superintendente do Inter Wealth Management.
Para Leonardo Kitaguchi, do Itaú, é preciso ter certeza de que a compra faz sentido no portfólio do investidor, que deve considerar também custos adicionais envolvidos na operação, como taxa de corretagem numa eventual venda, seguros, impostos, cartório, despesas com condomínio e vacância.
Fonte:
Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — São Paulo